Saiu no site PAPO DE HOMEM:
Veja publicação original: 108 projetos, iniciativas e pessoas que trabalham com a transformação dos homens, no Brasil e no mundo
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Por Guilherme Nascimento Valadares
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Uma lista colaborativa e em construção de projetos, iniciativas e pessoas trabalhando com a transformação das masculinidades. Nos ajuda a deixar ainda mais completa?
Existe um movimento de transformação dos homens acontecendo?
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Meu palpite é que sim, ainda que caminhe a passos lentos e fragmentados.
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Essa energia vem ganhando força por meio da ação independente e corajosa de homens e mulheres em diferentes cantos do mundo. Fora as movimentações dos homens surgidas na década de 70 (impulsionadas por Robert Bly e outros), cujas sementes seguiram ao longo dos anos seguintes, hoje parece haver uma retomada dessa conversa.
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Entretanto, a cobertura midiática sobre masculinidades ainda está muito negativa, centrada em torno de perguntas como:
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Há uma crise dos homens?
Por que há tantos comportamentos masculinos que podem ser tão tóxicos?
O quão danosos e frequentes são os comportamentos negativos dos homens?
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Acredito ser hora de colocarmos mais energia em outras perguntas, em complemento às anteriores, tais quais:
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Quais são as masculinidades saudáveis, desejáveis e possíveis de nosso tempo?
Onde estão os exemplos concretos que já existem e como podemos torná-los mais conhecidos?
Como educar os meninos para o futuro, indo além dos nãos? Quais os sims e locais de potência para a formação de masculinidades seguras em jovens?
Como homens e mulheres podem cultivar relações mais construtivas, amorosas e de parceria legítima, na prática?
Quem são as pessoas, projetos e iniciativas fazendo isso acontecer, no Brasil e no mundo? Como fazem isso?
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Não à toa tenho evitado usar o termo “masculinidade tóxica” (explico seu significado nesse texto), como comentei aqui.
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O debate em torno dos aspectos negativos dos homens é absolutamente necessário, nos ajuda a estruturar e entender os desafios a serem vencidos. Mas quando ele domina 90% da pauta e não sonhamos outras possibilidades, a mensagem arrisca se transformar em algo patológico.
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O que muitos passam a absorver é que o masculino É tóxico. E que todos homens SÃO tóxicos, potenciais abusadores, opressores, estupradores.
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Masculino se torna sinônimo quase de uma “doença”, de algo a ser combatido.
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Soa exagero? Pois é exatamente o que a respeitada escritora e professora Lisa Wade propõe nesse artigo, que a gente pare de perder tempo e declare logo uma guerra à masculinidade:
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“(…) precisamos atacar a masculinidade. Não digo que precisamos recuperar a masculinidade — isso é, encorajá-los a se identificar com uma versão mais gentil e bondosa disso.
(…)
O problema não é a masculinidade tóxica; o problema é que a masculinidade é tóxica.”
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Assustador.
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E tenho escutado falas similares em vários outros locais.
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Não creio que essa visão nos ajude a avançar. Essa narrativa pode nos fixar em posições limitadas: homens reduzidos a um papel de eternos opressores e mulheres como eternas vítimas indefesas.
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De um lado, isso pode aumentar o ressentimento, em especial das mulheres. E do outro, afastar muitos e muitas da conversa, em especial homens.
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Mulheres vêem os homens ficando distantes, acuados e confusos com o debate, as deixando mais frustradas, raivosas e certas de que precisam falar mais alto e com mais intensidade. Homens recuam ainda mais — ou, pior, alguns atacam e se abrigam em discursos violentos, sexistas e preconceituosos.
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Se instala uma dinâmica de acusação, ódio, denúncia e cabo de guerra. Todos saímos perdendo. Tenho observado esse ciclo ganhar cada vez mais força nas viagens e atividades que conduzo pelo Brasil, infelizmente.
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Publicarmos essa lista é um estímulo para mais abordagens construtivas, pacificadoras, articuladoras e nutritivas para a transformação das masculinidades e das relações entre os gêneros.
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A lista:
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Digressões à parte, vamos adiante.
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Essa é uma brevíssima curadoria, escrita numa sentada. Reforço que não sou a autoridade suprema do assunto ou porta voz de alguma coisa além de mim mesmo e dos aprendizados do PdH.
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Tenho bem mais nomes a acrescentar, mas não sou tão organizado quanto gostaria e tenho referências e links espalhados nos meu favoritos de diversas redes sociais, no Evernote, no Google Docs, nas notas do IPhone e em infinitos papéizinhos espalhados em pilhas milimetricamente organizadas pela casa.
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A lista, acima de tudo, está em construção e é colaborativa.
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Reúne pessoas que trabalham com as mais diversas abordagens e visões — algumas das quais conflitantes entre si. O propósito é ser isso mesmo, um panorama.
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Escrafunchem e completem com as sugestões de vocês. Se embrenhando nos links vão descobrir que vários dos projetos também possuem pequenos grupos fechados em redes como Facebook e Whatsapp.
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Como podem notar, há preponderância de projetos e pessoas ligadas à paternidade, um dos gatilhos chave para a mudança nos homens. E também tem muita coisa em São Paulo.
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É um recorte ainda carente de aprofundamento fora das capitais, em outros continentes, nas periferias, em raça, masculinidades não-binárias e tantos outros aspectos.
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Meu sonho seria vermos projetos e um calendário de eventos regular em todos os estados do Brasil. Será que chegamos lá?
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Projetos nacionais:
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- Homens em Conexão (Brasília)
- Coletivo Sistema Negro (São Paulo)
- Movimento Guerreiros do Coração (Nacional)
- Diamante Bruto (Brasília)
- Masculinities — Educação, comunicação e cuidado para homens (Brasília)
- Clã Lobos do Cerrado (Brasília)
- Círculo do Fogo Sagrado Masculino (Brasília)
- Portal Papo de Pai (Mogi das Cruzes)
- Paizinho Vírgula (Rio de Janeiro)
- Homem Paterno (Ubatuba)
- Pai de Verdade (Recife)
- Pai Todo Dia (Recife)
- 4Daddy (São Paulo)
- Podcast Balaio de Pais (São Paulo)
- Podcast AfroPai (São Paulo)
- Nerd Pai (São Paulo)
- Masculino da Alma (Florianópolis)
- Homem Inteiro (Florianópolis)
- Papo de Segunda (Rio de Janeiro)
- Projeto Tempo de Despertar (São Paulo — projeto focado na ressocialização de homens que cometeram agressão contra suas parceiras, é lei estadual. Aqui um documento sobre sua origem e aqui o eixo teórico dos Grupos Reflexivos, visão que também orienta e inspira o projeto. Há diferentes projetos como esse pelo Brasil, mas ainda escassos.)
- Brotherhood Brasil (São Paulo)
- PrazerEle (São Paulo)
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Eventos:
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- Homem Brasileiro (São Paulo, agosto)
- PAI: os desafios da paternidade atual (São Paulo, agosto)
- Força de Pai (Belo Horizonte, Vila Velha-ES, com previsão de ir a mais cidades! acontece em diferentes datas)
- Menergy Retreat (Austrália, 11 a 14 de outubro desse ano é a próxima edição)
- Primeiro Grande Encontro Homens em Conexão (Brasília, 19, 20 e 21 de outubro desse ano, incrições já abertas, não perco por nada!)
- Homens Possíveis (São Paulo, dezembro)
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Projetos internacionais:
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- Every Man (EUA — o podcast deles é excelente)
- Mankind Project (Mundial, presente em 22 países, com mais de 900 grupos em atividade e 60.000+ homens que passaram por suas atividades)
- The Conscious Locker Room (Austrália)
- The Good Men Project (EUA)
- Menergy (Austrália)
- Men’s Well Being (Austrália)
- Wilderness Collective (EUA)
- Barbershop Toolbox (disponível digitalmente e em inglês apenas, pela campanha #HeforShe)
- Representation Project (EUA)
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Institutos/Redes/Campanhas:
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- Instituto Promundo (Rio de Janeiro)
- Instituto Papai (Recife)
- Núcleo de pesquisas em gêneros e masculinidades da Universidade Federal de Pernambuco — GEMA (Recife)
- Instituto NOOS (São Paulo — recomendo procurar pela formação deles em “Grupos Reflexivos para Violência de Gênero”, a qual fiz por lá e é fantástica)
- MenCare (Mundial)
- MenEngage Alliance (Mundial)
- Rites of Passage Institute (Austrália, projeto único que trabalho com rituais de passagens para jovens homens)
- Campanha Menino Você Não Precisa (Brasil)
- #HeforShe globalmente, #ElesporElas no Brasil (possui um comitê mantido pela ONU Mulheres, do qual o PdH faz parte, como representante da sociedade civil)
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Pessoas que trabalham/defendem/estudam transformação das masculinidades (em diferentes territórios):
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Várias das pessoas abaixo possuem outras atividades ou não se dedicam primariamente às masculinidades. A listagem não é uma ordem de importância, ela é tão incompleta quanto minha memória. Inserimos apenas pessoas que seguem vivas.
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- Mauro Pozatti (médico, psiquiatra, iniciador do movimento Guerreiros do Coração, que existe desde 1992)
- Os 34 facilitadores do movimento Guerreiros do Coração (espalhados por todo o Brasil)
- Fernando Aguiar (articulador do “Homens em Conexão”)
- Comissão organizadora do “Homens em Conexão” (não encontrei links individuais de todos :), desculpem )
- Túlio Custódio (sociólogo especialista em masculinidades e também na interseção entre masculinidades, classe e raça)
- Cláudio Serva (terapeuta sexualidade)
- Sidnei di Sessa (psicólogo especializado em sexualidade masculina)
- Sidnei Glina (urologista e especialista em saúde do homem)
- Alexandre Coimbra Amaral (psicólogo, facilitador de grupos)
- Alex Possato (psicólogo, constelação sistêmica)
- Rafael Gonçalves (psicólogo e educador popular)
- Marcos Piangers (paternidade)
- Cacá Bueno (pediatra, conduz rodas de pais e mães)
- Victor Farat (designer, paternidade)
- Leonardo Piamonte (psicólogo, paternidade)
- Marco diPreto (paternidade)
- Rodrigo Morais (paternidade)
- Leandro Ziotto (paternidade)
- Marcos Bauch (paternidade, masculinidades)
- Hélio Gomes (masculinidades, raça, paternidade)
- Ismael dos Anjos (masculinidades, raça, paternidade)
- Pedrinho Fonseca (paternidade)
- Mário Queiroz (masculinidades, moda)
- Gustavo Tanaka (masculinidades, espiritualidade, escrita)
- Fabio Manzoli (masculinidades, espiritualidade, sexualidade)
- Gustavo Venturi (masculinidades, pesquisas acadêmicas)
- Benedito Medrado (masculinidades, pesquisas acadêmicas, ativismo)
- Sirley Vieira (masculinidades, pesquisas acadêmicas, ativismo)
- Marcos Nascimento (masculinidades, pesquisas acadêmicas, ativismo)
- Sérgio Barbosa (filósofo, facilitador de grupos reflexivos para homens)
- Adriano Beiras (masculinidades, pesquisas acadêmicas, ativismo)
- Alan Bronz (masculinidades, pesquisas acadêmicas, ativismo)
- Lam Matos (presidente da associação brasileira de pessoas trans)
- João W. Nery (ativista, primeiro transexual masculino a ser operado no Brasil)
- Caio Braz (artista, YouTuber, apresentador)
- Francisco Bosco (escritor, autor do livro “A vítima tem sempre razão?”)
- Karinna Forlenza (facilitadora de grupos e criadora do curso Ligue os polos, que trabalha com as energias masculinas e femininas)
- Gabriela Mansur (promotora de justiça, criadora do programa Tempo de Despertar, para homens condenados pela lei Maria da Penha)
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E no mundo:
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- Tony Porter (ativista anti -violência de gênero, educador, TED speaker)
- Elizabeth Nyamayro (ativista, líder da campanha global #HeforShe, da ONU Mulheres, TED speaker)
- Philip Zimbardo (psicólogo, TED speaker)
- Jackson Katz (educador anti-sexismo, TED speaker)
- Michael Kimmel (ativista, pesquisador, TED speaker)
- Justin Baldoni (ator, produtor, ativista, TED speaker)
- Colin Stokes (diretor da ONG Citizen Schools, TED speaker)
- LB Hannahs (ativista, facilitador, aborda em sua fala no TED como é ser um pai transexual)
- Emma Watson (embaixadora global da campanha #HeForShe)
- Camila Pitanga (embaixadora brasileira da ONU Mulheres)
- Daniel Ellenberg (psicólogo e facilitador de grupos de homens desde 1985)
- Arne Rubenstein (médico, facilitador de grupos e especialista em trabalho com adolescentes, fundou o The Rites of Passage Institute)
- Gary Barker (fundador do Instituto Promundo, pesquisador, ativista)
- Jordan Peterson (psicólogo, escritor)
- Tim Morrison (facilitador de grupos de homens e trabalhos espirituais)
- Tully O’Connor (facilitador de grupos de homens, trabalhos com espiritualidade e sexualidade)
- David Deida (escritor, facilitador de grupos e trabalhos envolvendo espiritualidade e sexualidade)
- Christina Hoff Summers (acadêmica feminista, autora do livro “The War Against Boys”)
- Camile Paglia (feminista, ativista, escritora de diversos livros, dentre eles “Free Women, Free Men”)
- Dan Doty (fundador do movimento Every Man)
- Owen Marcus (escritor e facilitador de grupos, trabalha com homens desde 1992, co-fundador do Every Man)
- Steve Dubbeldam (fundador do Wilderness Collective)
- Warren Farrell (autor do fascinante livro The Boy Crisis, trabalha com masculinidades há décadas, uma das voz mais importantes no campo; vale muito assistir sua fala sobre a crise dos meninos no TEDx)
- Cassie Jay (produtora do documentário The Red Pill, que retrata o mergulho de uma feminista no Men’s Rights Movement, ao longo de um ano)
- Terry Crews (ator, ex-jogador da NFL e ativista em defesa de masculinidades mais saudáveis)
- 30 campeões do impacto #HeforShe (corporativos, governamentais e educacionais)
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Quero ler mais sobre o que acontece no campos das masculinidades no Brasil e no mundo, por onde começo?
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O que fiz pessoalmente foi criar um alerta no Google Alerts para os termos “masculinidade” e “masculinity”. Vai receber updates periódicos fascinantes (além de notar o quanto o termo “masculinidade tóxica” tem dominado os debates em língua inglesa, o que considero um grande perigo).
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Vale buscar os mesmos termos no YouTube, só esse ano foram publicados mais de 3.000 novos vídeos à respeito, segundo report do Google BrandLab.
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Está empolgado e quer iniciar um grupo de homens? Comece por aqui:
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Dá uma olhada no nosso artigo “Como criar um grupo de homens, um guia básico“. Está bem didático e com inúmeros links e referências de aprofundamento, como livros, textos e filmes que valem à pena ser vistos.
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Nem de longe é um texto exaustivo, apenas reúne algumas sugestões e aprendizados do que funcionou pra nós. Usem, adaptem e compartilhem à vontade.
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Depois assista o maravilhoso “The Mask We Live In”, sobre como os meninos são criados. Saiu do Netflix Brasil, mas você pode comprar/alugar aqui, vale cada centavo. E não deixe de ver nosso documentário original e projeto do coração: “Precisamos falar com os homens?“.
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Arremata a fatura escutando o podcast sobre “masculinidades e sentimentos” do Mamilos, do qual participei. E o podcast “masculinidade negra”, do Lado Black.
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