Saiu no site G1
Veja publicação original: Patrícia Hill Collins e Djamila Ribeiro dão aula sobre lutas identitárias da mulher negra na Flica
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Com mediação de Florentina Souza, penúltima mesa deste sábado (13) atraiu multidão ao Claustro do Convento do Carmo, em Cachoeira.
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Por Danutta Rodrigues
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Representatividade importa sim. E essa representação da mulher negra, as lutas identitárias, o conceito de interseccionalidade e o feminismo negro nas vozes de Patrícia Hill Collins e Djamila Ribeiro. O encontro no final da tarde deste sábado (13), em Cachoeira, sob mediação de Florentina Souza, atraiu uma multidão ao Claustro do Convento do Carmo.
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Um debate complexo, necessário e atual. Como as mulheres negras são representadas? Quem deve representa-las? Como se dá o ativismo da mulher negra? Diversas questões levantadas com o objetivo de chamar à reflexão para assumir a postura política da mulher negra perante a sociedade e romper as barreiras racistas do sistema opressor.
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Com a palavra, Djamila Ribeiro:
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Djamila Ribeiro participou de uma mesa da Flica neste sábado (13) — Foto: Ricardo Prado/Divulgação
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“Falar em termos de representação no Brasil, a gente sabe que historicamente as mulheres negras não têm a humanidade reconhecida. A mulata, quente, boa de cama, a submissa”
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“Elas existem e muitas vezes a gente não sabe onde elas estão porque temos um sistema editorial racista, excludente e que impede que elas cheguem até nós”
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“O grande problema é que o sujeito branco foi colocado como universal”
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“Pensar classe é pensar raça. O racismo impede a gente de alargar o conceito de humanidade”
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“Debater identidades é um grande projeto nacional. Como a gente não discute identidade se nos últimos 12 anos aumentou em 55% o assassinato de mulheres negras? Como não discutir identidade se a cada 23 minutos morrem um jovem negro?”
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“As pessoas são marcadas racialmente e a depender dessa marcação elas vão estar mais vulneráveis”
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“Depois de 10 anos da Lei Maria da Penha, a gente percebe que diminuiu o assassinato de mulheres brancas, mas aumentou o de mulheres negras. Então faltou um olhar étnico-racial quando se formulou essa lei”
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“As pessoas estão muito assustadas com que está acontecendo agora no Brasil, eu também estou. E eu gostaria de dizer ‘Ele Não’”
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“É interessante perceber como os grupos privilegiados passaram a sentir isso agora. Eu entendo que o debate sobre as identidades num contexto brasileiro é essencial”
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“As mulheres negras vêm fazendo política no Brasil, não a institucional, porque existem diversas formas de fazer política”
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“Por mais que a gente tenha as grandes lideranças, quando vamos para disputa institucional, a gente não consegue tanto apoio para isso”
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“O estado mais negro do Brasil [a Bahia] e só agora nós temos uma deputada estadual negra. Isso denuncia o quanto somos um estado racista. Precisa fazer uma radicalização do debate racial muito grande sobre o que é esquerda”
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“Tem que ter mais mulheres negras no espaço de poder porque política a gente já faz”
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“É importante entender nossa diversidade como uma descolonização e respeitando os próprios conflitos geracionais”
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Com a palavra, Patrícia Hill Collins:
Patrícia Hill Collins durante a Flica neste sábado (13) — Foto: Ricardo Prado/Divulgação
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“Nós precisamos apresentar a nós mesmas. Esse foi o primeiro passo, mas não pode ser o último passo. A representação envolve mulheres negras falarem por si mesmas para que nós pudéssemos ir para outros grupos”
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“Vocês têm que chegar aos termos que vocês têm a sua branquitude. Eu sou branca e posso fazer o feminismo negro? Você pode testemunhar a partir do que você vê, mas não são suas experiências, você vai fazer disso como um diálogo para essa mulher negra, para você saber o que foi realizado”
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“Eu tenho que ouvir a minha própria voz e é isso que eu digo a vocês. Essa comunidade de mulheres negras que falam por nós mesmas”
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“Quem você pensa que nós somos? Uma vez que as mulheres negras começaram a ter o seu lugar…o olhar da mulher negra se fez pelo olhar de uma mulher branca e não vamos conversar sobre isso?”
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“A identidade na politica é algo que é preciso ser visto como algo por detrás, que olhe para trás, para que a gente sobreviva num mundo moderno”
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“Vamos ser apenas seres humanos? Como podemos ser cidadãos e cidadãs dentro de uma nação? A identidade é sempre política”
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“Nós temos questões sociais, problemas sociais que precisamos endereçar”
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“O racismo leva formas diferentes de gêneros. Homens e mulheres negras são afetados de formas diferentes. Eu sei que vocês têm essa questão do ‘embraquecimento’ para ser mais aceito”
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“Todas as mulheres negras precisam ser livres para que qualquer mulher negra seja livre”
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“A interseccionalidade não é o discurso de um grupo. Nós temos momentos históricos que muitos grupos se encontraram nesses momentos de intersecção”
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“Essas ideias são agora vulneráveis a apropriação, a falta de representação, e podem ser roubadas para serem representadas de outras formas”
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“O poder está no significado do tom. Nós temos que fazer com que a gente não perca as nossas ideias e as nossas políticas. É por isso que temos que lutar agora”
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“vocês podem ver que definidamente você pode ir na política. Nós temos uma luta pela frente, uma luta de vida. Eu tento olhar para as mulheres negras e a politica, uma visão muito mais generalizada, uma politica de protesto”.
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“Tudo que a mulher negra faz é profundamente político. E é necessário buscar isso”
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“As mulheres negras são tão centradas nisso, nas lutas políticas nos EUA, mas nem sempre elas são identificadas como ativistas”
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“É difícil você criticar algo e criar algo que possa identificar o problema. Se tornou difícil diagnosticar o problema e desenvolver respostas para ser bem sucedido”.
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“O ativismo é uma categoria ampla onde há uma regra que as pessoas precisam levar adiante e pegar tudo, colocar no solo, para que as pessoas possam levar adiante depois que partirmos”
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Bate-papo entre Patrícia Hill Collins e Djamila Ribeiro na Flica, neste sábado (13) — Foto: Ricardo Prado/Divulgação
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