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Bandeira e cabeça erguidas: O lugar de Luiza Reis nos campos de futebol no Brasil

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Veja publicação original: Bandeira e cabeça erguidas: O lugar de Luiza Reis nos campos de futebol no Brasil

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Árbitra assistente gaúcha diz que as ofensas mais machistas das arquibancadas vêm também de mulheres: “Já os homens começam nos chamando de gostosa e terminam xingando de vagabunda.”

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Se você está acompanhando a Copa do Mundo, deve ter percebido que não há árbitras, nem bandeirinhas, nem auxiliares mulheres em campo. É regra da FIFA: homens apitam jogos de homens – e mulheres, exclusivamente, apitam os jogos das seleções femininas.

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Concorde ou não com ela, essa separação já não existe no Brasil, embora as mulheres ainda sejam somente 13% dos árbitros na escala da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). E Luiza Reis, gaúcha de 30 anos, faz parte desta lenta mudança: é uma das três mulheres no quadro de árbitros da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) e das 107, de um total de 795 profissionais na lista da CBF.

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Quem mais nos ofende são as mulheres. Elas xingam, dizem que a gente está desfilando, mandam ir para casa lavar louça. Já os homens começam nos chamando de gostosa e terminam xingando de vagabunda.

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CAROLINE BICOCCHI/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Luiza é uma das três mulheres no quadro de árbitros da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) e das 107, de um total de 795 profissionais na lista da CBF.
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Ela começou cedo: fez o curso de bandeirinha em 2009, quando estudava Educação Física. Na turma, havia apenas mais duas meninas, e Luiza foi a única a concluir o treinamento. No ano seguinte, entrou para o elenco da FGF e, com apenas 21 anos, estreou nos gramados em um jogo do campeonato gaúcho sub-17: Riograndense (de Montenegro) x Pedra Branca (de Alvorada).

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Desde 2016, ela integra o quadro da CBF. Luiza atua nos jogos da série A do Campeonato Gaúcho, na série D do Brasileiro e na série A2 do Campeonato Brasileiro Feminino. A primeira divisão do Brasil é a única que não tem mulheres apitando jogos, diz Luiza; nas demais, há bandeirinhas e também juízas. E, nos campeonatos femininos, a prioridade é para trios de arbitragem femininos – o que nem sempre é possível devido à escassez de profissionais.

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Para conquistar e se manter na escalação da CBF, é preciso primeiro ser indicada pela federação estadual, e depois passar por testes físicos, iguais aos dos homens, três vezes por ano. Este, para Luiza, é o maior desafio: a prova consiste em correr quarenta tiros de 75 metros em 15 segundos cada um, com 22 segundos de descanso entre eles. Mesmo cumprindo os requisitos, a maioria das mulheres não é convocada para as partidas. “No ano passado, havia 26 bandeirinhas aptas, mas só três atuaram na série A”, afirma.

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Não posto nada além de futebol nas redes sociais. Se botar uma foto me divertindo, mesmo que nas férias, vão dizer que é por isso que errei no jogo.

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CAROLINE BICOCCHI/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Luiza atua nos jogos da série A do Campeonato Gaúcho, na série D do Brasileiro e na série A2 do Campeonato Brasileiro Feminino.

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Para Luiza, a maior dificuldade das árbitras é que “as mulheres ficam muito mais marcadas pelos erros”, e isso acarreta um afastamento longo das escalas de jogos. “Se uma assistente erra, não pode ser escalada de novo porque todo mundo vai lembrar, saber quem ela é”. É isso que abrevia a carreira de muitas mulheres na arbitragem, diz ela, lembrando a história de Fernanda Colombo, que recebeu tantos elogios por sua beleza quanto críticas pelos erros, e acabou encerrando a carreira de bandeirinha aos 25 anos.

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O mais surpreendente, segundo Luiza, é que quem mais pega no pé das mulheres em campo são as próprias torcedoras: “Quem mais nos ofende são as mulheres! Xingam, dizem que a gente está desfilando, mandam ir para casa lavar louça. Já os homens começam nos chamando de gostosa e terminam xingando de vagabunda”.

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Para preservar as bandeirinhas, há, segundo Luiza, alguns cuidados por parte das organizações. Por exemplo, evita-se posicioná-las na bandeira 1, aquela que corre do mesmo lado do campo em que estão as chamadas “casamatas”. Embora diga nunca ter tido problema com jogadores ou comissões técnicas, Luiza sabe que o provalecimento é comum, pois estas e outras experiências são diariamente compartilhadas pelas moças do quadro da CBF em um grupo de WhatsApp. Ali, trocam ideias sobre lances, desabafam a indignação quando alguém sofre machismo, e também se ajudam – sem roupas adequadas ao frio, uma árbitra paranaense usou as malhas térmicas de Luiza emprestadas para um jogo em Porto Alegre mês passado.

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Quando a gente erra, já sabe que a imprensa vai passar a semana inteira falando do erro. É difícil, mas a gente não esquece e sabe que não vai repetir o erro nunca mais.

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CAROLINE BICOCCHI/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Para Luiza, a maior dificuldade das árbitras é que “as mulheres ficam muito mais marcadas pelos erros”.

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Embora considere que o caminho de homens e mulheres na arbitragem seja o mesmo, observa que “a confiança demora mais” a chegar para elas, e sabe que estudou bem mais do que a média dos homens que atuam no mesmo nível. Já fez, por exemplo, duas vezes o RAP-FIFA, um treinamento de nível internacional, e está acostumada a tirar dúvidas dos colegas.

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Apesar de o Brasil ainda estar muito longe de paridade entre homens e mulheres no futebol, Luiza sustenta que “estamos no caminho”. Ressalta a presença de uma mulher, a ex-bandeirinha Ana Paula Oliveira, na Escola Nacional de Arbitragem de Futebol. “Faltava uma representante nossa lá, e agora tem”. Segundo Luiza, ela brigou pela alteração de uma regra injusta: quando uma mulher entrava em licença maternidade, ficando portanto um ano fora de atividade, automaticamente perdia o escudo FIFA ao retornar. “A maioria nem voltava, ou deixava de ter filho”.

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O teste físico é muito mais intenso do que um jogo. É um limitador para o número de homens árbitros, mas, para as mulheres, é um ponto de corte.

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CAROLINE BICOCCHI/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL
Além de árbitra, Luiza também é professora.

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Luiza também comemora que, desde 2017, a CBF promove os campeonatos femininos de alto nível. E observa que, a partir de 2019, ter times femininos disputando campeonatos nacionais será pré-requisito para os clubes jogarem a taça Libertadores da América.

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Em paralelo com a carreira de árbitra assistente, Luiza sempre foi professora. Até maio, dava aula de ginástica artística para crianças em duas escolas, mas então resolveu priorizar o doutorado iniciado este ano – no qual estuda atividade física e saúde em crianças e adolescentes. Mais familiarizada com flip-flops e mortais do que com embaixadinhas, Luiza garante que retorna depois de concluída a tese, até porque a carreira na arbitragem tem um ponto de corte: até quando ela vai conseguir dar os 40 piques de 75 metros igual a um homem? Luiza vai além. E sabe que consegue.

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Ficha Técnica #TodoDiaDelas

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Texto: Isabel Marchezan

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Imagem: Caroline Bicocchi

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Edição: Andréa Martinelli

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Figurino: C&A

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Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC

 

 

 

 

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