Saiu no site Patrimônio Histórico:
Maria Esther Bueno, ampliação em preto e branco/Acervo Público do Estado de São Paulo/Autor Desconhecido
São Paulo possui cerca de 140 monumentos, marcos e bustos em honra a personalidades com atuação de destaque na sociedade, mas apenas 8 deles se referem a mulheres. O monumento mais antigo a uma mulher é de 1977, enquanto os primeiros tributos a homens ocorreram já nas décadas de 1910 e 1920.
Essa lacuna de mais de cinquenta anos entre o início das homenagens a homens e a mulheres ajuda a explicar a desproporção de representatividade. Embora a luta feminina por protagonismo social tenha como marco a criação do movimento sufragista na virada do século 19 para o 20, foi só a partir da revolução de costumes dos anos 1960 que a luta pela igualdade de direitos passou a modificar com maior velocidade a sociedade e as leis.
Em tempo! Os bustos são expressões artísticas que marcaram o século 19, tendo pouca ressonância hoje. Por esse motivo, deixaram de ser aceitos pelo DPH. Homenagens atualizadas para linguagens contemporâneas, ainda que figurativas, podem ser propostas à Comissão de Esculturas, que analisará o mérito da obra.
ANTONIETTA RUDGE (1885-1974)
Antonietta Rudge foi uma pianista precoce. Começou a tocar aos 4 anos com um professor francês e estreou aos 7 com uma apresentação na Casa Levy, em São Paulo. Aos 9 anos, já era aluna do pianista e maestro italiano Luigi Chiaffarelli. Com apenas vinte, iniciou sua carreira na Europa. Foi casada com o poeta modernista Menotti Del Picchia após ter se separado de Charles Miller, esportista brasileiro considerado o “pai” do futebol no Brasil.
A estátua em sua homenagem foi implantada na Praça Portugal em 1977, em frente à casa onde Antonieta viveu. Após seu roubo em 1982, o criador da obra original, Luiz Morrone m(aluno de Ettore Ximenes e autor de diversas obras em São Paulo, como o Brasão de Armas do Estado) refez a escultura. Em 2002 o Estúdio Sarasá a restaurou.
PROFESSORA CAROLINA RIBEIRO (1892-1982)
Carolina Ribeiro foi uma educadora brasileira. Ocupou o cargo de Secretária da Educação do Estado de São Paulo e de diretora da Escola Normal Caetano de Campos. A estátua em sua homenagem foi encomendada ao escultor Luiz Morrone e implantada em 1892 na Praça da República, de frente para o edifício da Escola Caetano de Campos, onde Carolina Ribeiro foi diretora.
DOUTORA CARLOTA PEREIRA DE QUEIROZ (1892-1982)
Carlota Pereira de Queiroz não era apenas médica, historiadora e professora: foi também a primeira mulher eleita deputada federal. Em 1928, chefiou o Laboratório da Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo, deixando o cargo durante o Movimento Constitucionalista de 1932 para liderar um grupo de 700 mulheres que prestava assistência aos feridos em combate. O busto em sua homenagem foi feito por Luiz Morrone e implantada na Praça Califórnia.
ELISABETH SOUZA LOBO-GARCIA (1943-1991)
A professora nasceu em Porto Alegre, no ano de 1943, onde se formou em Letras. Fez doutorado em sociologia na Universidade Paris VIII e, ao voltar para o Brasil, combinou a atividade acadêmica com a militância política. Em 1991, foi vítima de um acidente de carro, a caminho de um ciclo de palestras onde falaria de sua pesquisa sobre relações de gênero em movimentos sociais no campo. Escreveu o livro “A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência”. O marco em homenagem à professora está na praça que recebe seu nome, inaugurada pela então prefeita Luiza Erundina.
LUCINHA MENDONÇA (1960-2003)
Lúcia Maria Moraes Ribeiro Mendonça foi uma jurista da Procuradoria Geral do Município de São Paulo. Atuou diretamente na defesa da cidade e das causas democráticas, destacando-se nas lutas pela redemocratização do país através das “Diretas-Já” e na criação da Procuradoria Geral do Município de São Paulo. Após a sua morte, em 2003, o escultor Marcello Nitsche doou ao município um monumento em tributo a Lúcia Mendonça chamado “Alegres Saudações para Lucinha”, implantado na praça Lucinha Mendonça, nome pelo qual era chamada por seus amigos.
CORA CORALINA (1889 – 1985)
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas começou a escrever aos 14, mas só assumiu o pseudônimo de Cora Coralina aos 50. Ela só publicou seu primeiro livro aos 76 anos. É umas das mais importantes poetisas brasileiras. Seu busto fica na praça que também recebe seu nome. É uma obra do mestre Aucione Torres Agostinho, que também foi artista plástico e poeta.
MARIA ESTHER BUENO (1939)
Maria Esther Andion Bueno é uma ex-tenista brasileira reconhecida como a primeira mulher a ganhar quatro Grand Slams de duplas em um ano, além de ter seu nome no livro dos recordes por vencer uma partida em apenas 19 minutos, em 1964. Seu nome também foi incluso no International Tennis Hall of Fame, em 1978. Essa mesma instituição já havia eleito Maria Bueno como a melhor tenista do mundo em 1964. Há duas obras em homenagem à tenista em São Paulo: uma estátua feita por Arlindo Castellane de Carli, na Praça Charles Miller, depois movida para o Clube de Regatas do Tietê, com uma réplica no Pacaembu. A outra, feita por Gustavo Rosa, fica na Praça Califórnia, em Pinheiros.
PROFESSORA MICHIE AKAMA (1903-2005)
Na década de 1930, Michie e seu marido Jiuji Akama saíram da província de Myagui, no Japão, para vir ao Brasil em busca de novas oportunidades. A princípio, trabalharam em uma fazenda de café. Mais tarde mudaram-se para São Paulo, onde abriram um curso de corte e costura e um de língua japonesa no bairro da Liberdade. Michie Akama recebeu diversos títulos por sua dedicação ao ensino, incluindo a Comenda do Tesouro Sagrado, entregue em uma cerimônia no Japão pelo imperador Hiroito. O totem construído em sua homenagem foi implantado na avenida Domingos de Moraes, na praça que recebeu o nome da professora. Na inscrição lê-se: “Encubra esse país de clima tropical com as flores de Nadeshiko”, em menção à flor que simboliza a mulher japonesa.
Publicação Original: A PEQUENA REPRESENTATIVIDADE DAS MULHERES NOS MONUMENTOS DE SÃO PAULO